08 dezembro 2008

"Unfinished", "unpublished" e "unedited"






Quando "Os filhos de Húrin" saiu, em abril de 2007, houve muito furor por parte dos fãs de Tolkien. Enquanto alguns torciam o nariz alegando que aquele era mais um caça-níquel por parte de Christopher Tolkien, quase todos ficaram muito felizes por ter a oportunidade de ler um trabalho 'novo' de seu autor favorito. O argumento contra era que Christopher já havia sugado tudo o que podia do espólio do pai e não sabia mais o que inventar para arrecadar mais dinheiro dos fãss da Terra-Média e suas histórias. Ele já havia publicado os "Contos inacabados" (com trabalhos que Tolkien deixou por concluir, como o próprio nome indica) e as "History of Middle Earth" (ou "HoME"), uma série de 12 volumes com rascunhos e projetos abortados para os contos e livros da Terra-Média. Isso sem falar no próprio "Silmarillion", que foi concluído às pressas por Christopher e o amigo Guy Kay.



Enquanto no "Silmarillion", ficou claro que alguns materiais ficaram de fora por não estarem devidamente organizados e outros materiais foram rearranjados para ficarem coesos com o livro todo, os "Contos Inacabados de Númenor e da Terra-Média" mostraram a criação de Tolkien no estágio em que ficou parado, ou nas formas em que evoluiu. Isso foi fantástico pois, além de termos acesso a várias informações importantes a cerca da Terra-Média, também podíamos compreender como Tolkien trabalhava. E foi nesse livro que encontramos, logo no início, a "Narn i Hîn Húrin" (a "narrativa dos filhos de Húrin"). Vestígios de uma história que poderia ter sido muito mais longa e elaborada do que o capítulo "Túrin Turambar" que está na versão do "Silmarillion" publicado.



Ao longo de vários capítulos nos mais diferentes estágios de composição, conhecemos a história de como o humano Húrin é preso por Morgoth, inimigo dos elfos e do valar, e de como cresce e se aventura Túrin, seu filho, em uma vida cheia de desgraças que envolve furtos, assassinatos, maldições, incesto e uma violenta luta contra Glaurung, o primeiro dragão. Essa história estava quase pronta, Christopher mesmo afirma isso para justificar a ausência de alguns capítulos que, na verdaed, já estavam integrando o "Silmarillion". Dessa forma, quando "Os filhos de Húrin" foi anunciado e chegou as livrarias, o que encontramos não foi uma história inédita, mas toda a narrativa dos "Contos inacabados", mais alguns capítulos do "Silmarillion" e passagens das "HoME", organizada de forma coerente e contínua, como o livro que, de fato, poderia ter sido (e quase foi).



A emoção de ler a única história longa da Primeira Era se misturou com a emoção de ler um bom livro. O fascínio que esta mistura gerou, também gerou a pergunta: ainda veremos trabalhos 'inéditos' de Tolkien? A resposta seria, só Christopher sabe. Mas, podemos ter uma idéia do que não foi acabado, publicado ou editado... Por exemplo, desde quando Tolkien começou a criar sua mitologia para a Inglaterar (na época em que o "Silmarillion" se chamaria "Book of lost tales", na década de 1920), ele já afirmava que por toda a história da criação do mundo e da guerra das jóias entre elfos e orcs, haviam três importantes histórias a serem contadas. Três grandes contos daquele Primeira Era. Os contos eram: "Beren e Lúthien", "Filhos de Húrin" e "Queda de Gondolin".



Sobre "Os filhos de Húrin", sabemos que durante grande parte de sua vida ele desenvolveu a narrativa e que Christopher a compilou e organizou durante os últimos 30 anos. Isso tudo foi registrado emc artas, introduções de volumes publicados e entrevistas. Agora, e sobre os outros dois contos? "Beren e Lúthien" começou como um gigantesco poema que nunca foi terminado e que chegou a metade de seu tamanho, apenas. Porém, existem versões desse conto para o "Book of lost tales" (da década de 20), para o "Qenta Noldorinwa" (da década de 30), para o "Quenta Silmarillion" (da década de 60) e finalmente o "Silmarillion" (publicado em 1977), sem contar um outro poema publicado no "Senhor dos anéis". Portanto, considero que um estudo de todas essa versões, mais acréscimos de outros capítulos e passagens de Tolkien sobre aquele período histórico e geográfico, poderiam dar origem à um belo e longo conto a cerca do amor entre o humano Beren e a princesa elfa Lúthien, que juntos conseguem recuperar uma silmaril da coroa de Morgoth.



Claro que só esse conto não ocuparia tamanho suficiente para um livro, portanto, poderíamos acrescentar a "Queda de Gondolin" a esse projeto editorial. Talvez esse seja o conto que mais possua versões e que mais foi trabalhado por Tolkien. Além de ter sido escrito em diversos poemas (alguns ainda inéditos), ele também encontra versões em todas aquelas quatro tentativas de "Silmarillion" citadas acima, bem como versões contadas por diferentes pontos de vista e vários textos paralelos a esse evento, mas com profunda relação (tanto antes quanto depois da descoberta e destruição da cidade fortificada e escondida). Acrescenta-se a isso o conto inacabado "Da chegada de Tuor a Gondolin" (que entre os vários estágios de evolução, trata em detalhes sobre a queda da cidade) e pronto, teríamos um conto quase tão extenso quanto "Os filhos de Húrin". Claro, que Chritopher teria um grande trabalho para organizar e editar o texto de forma coerente e verossímil, mas não seria um trabalho impossível, com tantas referências e textos de apoio, já conhecidos pelos fãs.



Então, se temos dois grandes contos da Primeira Era juntos em um mesmo volume, por que não acrescentar o terceiro? Não, não estou me referindo a publicar "Os filhos de Húrin" mais uma vez, mas em acrescentar o conto "Wanderings of Húrin" (presente no volume XI das "HoME, "Morgoth's ring"), no qual Húrin é liberto doc aiveiro e vaga sem destino pelo mundo, até saber das tragédias de seu filho e sua filha, onde parte para se vingar o mal feito a eles. Embora esse seja o conto menos trabalhado e revisto por Tolkien, é um dos mais detalhados a cerca da Primeira Era. Se mais uma vez acrescentarmos passagens de outras fontes, teríamos aí mais um magnífico conto para integrar o volume.



Assim, já que não custa sonhar, meu livro dos sonhos receberia o pequeno título de "Livro dos três grandes contos perdidos da primeira era, ( ou: que não foram acabados, publicados e editados até os dias de hoje)" e poderia ser lençado a tempo de conseguir laçar o público que está se preparando para assistir o "Hobbit" no cinema. Ah, e como apêndice, poderíamos ter anexados os textos e frases de Tolkien que foram encontrados depois do término das "HoME" (como por exemplo o artigo sobre o poder subconsciente ou telepático dos elfos, ou a frase em que se afirma que elfos podem ter barba, o que justificaria a aparência de Círdan). Então, alguém se habilita a escrever essa idéia para a Tolkien enterprises ou para o próprio Christopher Tolkien? Contem com minha assinatura!

02 dezembro 2008

Susana e representação da liberdade sexual


Mais uma vez aqui, volto a argumentar qualquer coisa sobre Nárnia. Deve ser para encerrar alguma trilogia sobre o assunto, ou para fechar um ciclo a respeito desse meu súbito re-interesse no mundo de Nárnia. Sou fã da série desde 1999, quando li "A cadeira de prata"(é, li fora de ordem). De lá para cá, misteriosamente, cada vez mais a série de livros despertou meu interesse. Eu a conheci somo um consolo para apaixonados por Tolkien (nesse sentido me frustrei, pois uma série quase nada tem algo em haver com a outra), mas cativado pela escrita simples e personagens caricatos em um mundo paralelo e cristão. Parece hilário, mas esses elementos geralmente eu repugno. Mesmo assim, insisti e lutei contra meus temores, sendo afinal cativado por animais falantes.

Mas, o preconceito com Nárnia não foi só meu. Ao longo de todos esses anos (mais de meio século), a obra de C. S. Lewis foi acusada de racismo, machismo, intolerância religiosa e demais discriminações. Uma das principais delas é a questão da sexualidade. Tal teor, praticamente, é inexistente na obra (apesar da presença de faunos, ninfas e do próprio deus Baco) e parece ser rechaçado, de alguma forma sutil. A principal vítima disso tudo é Suzana Pevensie, a mais velha das irmãs e irmãos Pevensie (aquelas quatro crianças que visitam Nárnia no primeiro livro publicado da série, "O leão, a feiticeira e o guarda-roupa", mais tarde, elas são citadas no "Cavalo e seu menino", mas retornam em "Príncipe Caspian).

No último volume a ser publicado e, concomitantemente, o último volume da cronologia (apesar de ter sido o penúltimo livro da série a ser escrito), vemos toda a destruição de Nárnia por meteoros, serpentes gigantes, pragas e guerras. Após todo esse caos, vemos que vários habitantes de Nárnia, incuindo as crianças da Terra, são levadas por Aslam até seu reino, a verdadeira Nárnia. Claro que, obviamente, se trata do paraíso destinado àqueles que estão com cristo até os dias do juízo final. E, mesmo que nem todas as crianças estivessem lá, elas ainda assim chegam até a verdadeira Nárnia (sim, elas morrem em um acidente de trem e renascem para a vida eterna).

Então, ficamos sabendo que todos aqueles humanos terráqueos filhos de Adão e filhas de Eva que já estiveram em Nárnia, tiveram uma segunda e última chance de voltar para lá, mesmo que o prazo para isso já tivesse sido expirado (como é o caso do Pedro Pevensie, que já estivera em Nárnia antes de crescer, e de Lúcia Pevensie, que já estivera em Nárnia três vezes). Curiosamente, ninguém menciona que o tio André Ketterley também já fora para Nárnia e que, por alguma razão, ele não retornara para lá. A razão pode ser simples, dentre duas possibilidades: C. S. Lewis se esqueceu do detalhe que incluíra esse personagem em Nárnia no volume "O sobrinho do mago" que conta a história de Nárnia mas foi escrito após a última batalha, ou C. S. Lewis não quis valorizar o maligno personagem do feiticeiro que desperta Jadis e abre portais entre mundos através de um 'achado' anel atlante.

Partindo da segunda suposição, devemos interpretar que os maus não heradarão a terra de Nárnia, certo? Algo bem cristão, por assim dizer. Pois bem, acontece que Susana Pevensie também não é levada a Nárnia verdadeira. Ok, tudo bem, ela não morre e continua vivendo em Londres, mas é dito que ela cresceu, virou mulher adulta, se dedicou ao trabalho e a vida social, esquecendo-se de Nárnia como se sua viagem e seu reinado fossem apenas uma brincadeira confusa de sua criança. Agora, vamos refletir sobre isso... Susana foi duas vezes à Nárnia, foi rainha durante anos, conheceu o Papai Noel, conheceu Aslam, participou de guerras mesmo se recusando a matar alguém com o arco e as flechas que ganhara, possuía uma trombeta que foi responsável pela salvação de Nárnia na Guerra da Libertação ao lado de Caspian X contra seu tio Miraz. Como ela poderia ter se esquecido? E mesmo que ela tivesse se esquecido, como Aslam poderia ter se esquecido dela?

A solução que encontrei é triste, mas é possível. Susana foi a única a mostrar alguma paixão, um princípio de sentimento que envolve afeto, admiração e erotização. Fica claro e ao mesmo subentendido que ela nutriu algum interesse por Caspian, durante sua última visita à Nárnia. Ao que, logo após, nunca mais voltou para Nárnia. Susana estava crescendo em Nárnia, na verdade, aprendeu muito lá, passou por ritos de passagens muito simbólicos e importantes, para só depois retornar para a Terra com força o suficiente para se tornar mulher. Para quem leu meus posts anteriores, deve se lembrar que citei que achava que Susana faria diferença na "Última batalha", isso por quê acredito que Jadis reflete os mistérios de Susana e de todas as mulheres. A feiticeira branca, a feiticeira verde, a rainha das neves, a habitantae solitária da pétre Charn, é que revela os processos da terra e da noite. Processos esses que só conseguem ser representados por uma mulher.

Assim como Jadis, ao longo de todas as crônicas em Nárnia, mostrou questões de amadurecimento e de papéis sociais e fisiológicos que uma mulher desempenha ao longo de sua vida, também Susana vivencia e revela essa experiência de tornar-se mulher e abandonar um lado mais próximo das donzelas. Penso, portanto, que o que afastou Susana de voltar para a verdaeira Nárnia, sem pecado e sem passado, foi o fato de que Susana por si só abandonaria Aslam e aproximaria do culto a Jadis (culto esse que ela presenciou junto ao príncipe Caspian, deve-se dizer). E, se em um primeiro post falei sobre a religião (que funde mito e humanidade), pude falar sobre o mito no segundo post para culminar com a humanidade nesse terceiro post. A humanidade de Susana Pevensie, a personagem mais humana de Nárnia e uma excelente mulher de verdade, que não precisaria de Nárnia alguma para ser quem deve ter sido.

Inklings: da Terra-média para o espaço


Tolkien conheceu Jack em 11 de maio de 1926 em uma reunião da faculdade. Jack fora recém aceito na cadeira estudos lingüísticos da mesma. A amizade dos dois foi instantânea e, enquanto durou, foi forte. Tolkien influenciou Jack a conhecer a fé (conforme relata no poema “Mythopoeia”), a escrever livros de fantasia para crianças e a participar dos Inklings, uma sociedade de contistas, romancistas e poetas que, além de discutir suas obras ou obras importantes da literatura anglo-saxônica, eram bons amigos e confidentes, gostando de passar as noites de quarta-feira juntos, fumando cachimbo no Balliol College.
Tolkien já tivera outros grupos de estudo e apreciação de produções literárias (como o ‘koalbitters’, ‘mordedores de carvão’ em islandês, numa referência aos mineiros que passam as noites de frio junto ao fogo, contando histórias; ou a T.C.B.S.), mas nenhum grupo foi tão ilustre quanto os Inklings. Além de Tolkien e Jack, também participava desse grupo o fiel amigo de longa data de Tolkien: W. H. Auden, famoso poeta, importante crítico, influente editor e excelente autor.
Jack costumava chamar Tolkien de ‘Tollers’ (apelido que o acompanhava desde criança) e a proximidade entre os dois foi tão grande, que Jack foi um dos primeiros a apreciar a “Lay of Beren and Lúthien” e tantos outros aspectos do mundo que rondava as lendas sobre os elfos, as silmarils e os próprios Beren e Lúthien. Assim, em 1930, com os humores elevados por conta de vinho, Tolkien (ou Tollers) e Jack combinaram que cada um escreveria uma história de ficção científica que remontasse à descoberta do Mito. Tolkien (ou Tollers) escreveria sobre uma viagem no tempo, e Jack escreveria sobre uma viagem pelo espaço.
A história de Tolkien chamava-se “The lost Road” e nunca passou do terceiro capítulo (conforme se vê no quinto volume das HoME, chamado precisamente de “Lost Road and others tales”). O livro mostraria como o professor de línguas Alboin e seu filho, desenvolveriam sua relação até então tão distante, enquanto voltavam no tempo através de sonhos para desvendar um mistério que encontrara em sua biblioteca: uma estrada perdida que segue reta para fora do mundo até encontrar Atlântida, prestes a cair. Atlântida, na verdade, se chamava Númenor (alguém reconhece esse nome de algum lugar?).
Mais uma vez Tolkien impunha sua própria mitologia em obras que não se tratava da Terra-Média. Claro que devemos levar em conta que “O hobbit” e consequentemente “O senhor dos anéis” ainda não tinham nem sinais de existência, mas, ainda assim, elementos como elfos, Morgoth, Sauron, Valinor se faziam presentes durante os tempos de guerra que culminariam na destruição de Númenor por ondas gigantes enviadas pelos valar.
Sim, era um romance dos tempos do “Akallabêth”, o conto publicado no “Silmarillion” e citado no “Senhor dos anéis” a respeito da queda de Númenor ao final da segunda era. E este mesmo tema recorreu numa outra história inacabada (e publicada na nona HoME, “Sauron defetead”) chamada de “Notion club papers”, iniciada em 1945 sobre um grupo semelhante aos Inklings, próximo do final do século XX, que de alguma forma conseguem pistas sobre a corrupção dos homens e a queda Númenor durante tempos de guerra. Parte dessa segunda narrativa foi publicada em forma de versos sob o título de “Imram”, na “Time & Tide” em 1955, baseado nas lendas irlandesas de São Brandão, que chegou até um paraíso nos distantes mares do ocidente.
Jack, por sua vez, escreveu, terminou e publicou um livro sobre Elwin Ransom, que é levado até Marte no livro “Out of the silent planet”. Mais ainda, Jack escreveu uma continuação chamada “Perelandra” (sobre uma viagem do mesmo herói até Júpiter) cuja qual Tolkien (ou Tollers) gostou ainda mais do que da primeira. Entretanto, Tolkien abominou a terceira e última parte do que ficou conhecida como “trilogia espacial” (há anos no prelo de uma editora evangélica), chamada de “That hideous strength”, que culmina em uma viagem até Vênus.
O que é mais interessante nessa série de livros de ficção científica (os primeiros livros de Jack) foi que Tolkien (ou Tollers) encontrou alguns ecos de sua obra na obra do amigo (isso muito antes da amizade dos dois se romper devido a, possivelmente, inveja por parte de Tolkien para com o sucesso do amigo). O mito descoberto nas histórias de Jack era o mito de Adão, Eva e a ascenção e pecado da humanidade. Para tanto, referia-se a um paraíso nomeado como Numinor, onde um casal chamado Tor e Tinidril (Tuor e Idril, humano e elfa na “Queda de Gondlin”?) recebiam a visita de Elwin (variação lingüística e snonora de Aelfwine, “amigo dos elfos” e personagem central do então “Book of lost tales” a primeira versão escrita do “Silmarillion”).
Antes de concluir, é importante frisar que “Jack” era o apelido dado a Clive Staples Lewis, mais conhecido como C. S. Lewis, que quando escreveu o sexto volume das “Crônicas de Nárnia” em 1955, conhecido como “O sobrinho do mago” referiu-se a anéis vindo de Atlântida. Mais uma mera coincidência ecoando em sua obra ou mais mito revelado na história dos Inklings?

Tom Bombadil e o Homem-da-Lua


Muitas são as lendas, mitos e contos folclóricos a respeito da Lua. Só na Inlaterra, encontramos um fazendeiro que vive por lá, um cavaleiro matando um dragão e muitas outras. Tolkien, que tanto queria recriar a mitologia britânica, não deixou escapar a oportunidade e, por essa mesma razão, trouxe o homem da lua para seus contos. Não exatamente um homem... Tilion era um maia, um servo angelical dos valar. Era Tilion quem ocupava a vaga de timoneiro da embarcação ou da carruagem da Lua, sempre seguindo Árien, a navegadora do Sol. Tilion, apaixonado por Arien, seguia um curso instável quando renascia no leste depois de passar por baixo da terra, mas isso não vem ao caso.


Arien não só ocupava o brilho das antigas lâmpadas ou das árvores que foram destruídas por Melkor, no início dos tempos, antes dos homens nascere. Arien também foi a motivação para que um personagem folclórico surgisse na obra de Tolkein. Em toda a obra, literalmente. O Homem-da-Lua é um personagem recorrente que pertence a universo algum. Tanto habita a Terra-média como outras histórias sobre o nosso mundo, conforme veremos.


A primeira referência pode ser encontrada no "Senhor dos anéis", quando os hobbits cantam sobre ele no Pônei Saltitante, aquela estalagem em Bri. Aquelas mesmas canções, podems er encontradas no livro "As aventuras de Tom Bombadil". Lá, em dois poemas ambos atribuídos a Bilbo, ficamos sabendo como o Homem-da-Lua veste prata e de prata é sua barba e seu cabelo. De prata é a chava que abre as portas de marfim que leva até a escada que desce ora sobre um monte, ora sobre o mar. E o Homem-da-Lua, adornado com pedras preciosas sente falta de cores e de comida, mas costuma mesmo é descer cedo para beber da melhor cerveja, mas nunca no Yule (o natal, para quem ainda não sabe), pois ninguém lhe abre protas no frio. Sabe-se, também, que às vezes bebe demais e tem acordar muito cedo, de ressaca, apra voltar para Lua antes do dia nascer (o que uma vez acabou por deixar que uma vaca chegasse até a Lua).



Uma história tão hilária assim, não poderia ficar restrita a um livro adulto, como "O senhor dos anéis", portanto, não é de se espantar que o encontremos em "Roverandom", aquele livro que Tolkien escreveu apra seu filho Michael, quando este perdeu seu cachorro de brinquedo. O livro conta como um cachorro é transformado em brinquedo e acaba por viver grandes aventuras no fundo do amr e até na Lua, onde mora um dragão e um feiticeiro (que tem algo de Gandalf, assim como os outros feiticeiros da história). Mas, o mais curioso é que entre espinheiros e aranhas (em citações a Shakespeare e alguns contos de fadas), o cão Rover encontra um outro Rover (um cão-da-Lua) e o próprio Homem-da-Lua, que o ajuda a descer para o mar (uma vez que há um caminho que liga o mar até a Lua). E, se não bastasse isso, entre outras coisas, sabe-se como foguetes de festa escureceram a Lua e permitiram um eclipse (fato que, de fato, ocorreu enquanto Tolkien escrevia a história).


Qual a importância dese eclipse? Bem, nas "Letters from Father Christmas", o Homem-da-Lua desce para Terra por conta de uns foguetes que escureceram a Lua e permitiram o eclipse. Esse livro, na verdade, se trata de uma compilação de cartas que Tolkien escreveu para seus filhos por mais de vinte anos, como se fossem de autoria do Papai Noel. Um livro sensível e divertido, com várias histórias e ilustrações, que tem como personagens principais o Papai Noel, Polka um urso polar, orcs malignos e um elfo ajudante do Papai Noel chamado Ilbereth. Um nome muito semelhante a Elberteh, não é mesmo? Elbereth foi um dos nomes dado a Varda, uma vala cujo título significa "Rainha das estrelas".


E entre tantas referências que Tolkien fazia a Terra-Média em suas obras infantis, somos levados a esbarrar em poemas e brinquedos. Dessa forma, fica claro que o final dessa jornada seria Tom Bombadil, talvez o personagem mais enigmático do "Senhor dos anéis". Durante três apítulos do livro (que o próprio autor descreveu como fora do clima e da própria história), travamos contato com esse personagem brincalhão e alienado, que parece só querer cantar e conlher nenúfares para sua esposa (a também enigmáica Fruta D'ouro). Tranjando botas amrelas, jaqueta azul e um chapéu de abas largas com uma pena de ganso (vestimenta quase idêntica ao mago da areia Psmathos Psmathides, do "Rovernadom"), tudo o que ficamos sabendo sobre Tom Bombadil é que ele não é nem humano e tão pouco um hobbit. Pertence a raça alguma é o senhor da Floresta Velha. Por alguma razão, a guerra do Anel não o interessa e sequer Sauron ou o Anel surtem algum efeito mínimo sobre ele. Tom Bombadil está na Terra-Média desde o início e provavelmente será o último morrer, sendo, portanto, o mais velho (como o chamam os elfos).



Curioso por mais informações no intuito de descobrir quem, afinal, é Tom Bombadil, qualquer leitor pode procurar "As aventuras de Tom Bombadil". Entretanto, as divertidas poesias que se encontram lá, nada ou quase nada acrescentam para resolver o mistério. Na verdade, só ficamos mais curioso a respeito desse personagem que desafia os (possíveis) huorns que vivem em suas terras, bem como as aparições de príncipes Cardolans mortos e traidores, enterrados na COlina dos Túmulos, tão perto da Floresta Velha. Sabemos também como ele se encantou imediatamente pela Fruta D'Ouro e fez de tudo para consquistá-la e lhe dar um linda cerimonial e vida de casamento. E os dois parecem ser felizes juntos, principalmente quando sozinhos. Muito embora, Tom Bombadil, que canta sobre si mesmo, faça visitas a alguns amigos animais e ao fazendeiro Maggot (aquele mesmo que cria cogumelos e que perseguia Frodo quando criança). A dúvida a mais que surge é: o Rio é um homem ou uma mulher? Não fica claro em nenhum momento, mas muita coisa aponta as duas possibilidades. Sobre annimais falantes, isso pode ser visto no "Hobbit" e no próprio "Senhor dos anéis".



Então, como resolver Tom Bombadil? Tolkien já disse que ele não é um valar ou o próprio criador Eru Iluvatar. Ninguém mais ousa considerar a hipóteses metafísica de Tom Bombadil fosse o próprio Tolkien. Então, só nos resta fazer um resgat de como o personagem foi criado. E, mais uma vez, um brinquedo do filho Michael entra na história. Era um boneco holandês com uma pena no chapéu. Certa vez, o filho mais velho de Tolkien, John, por não gostar desse boneco, jogou-a na privada. mas, Tom Bombadil conseguiu ser salvo e se tornou o herói de uma história que iria encantar toda a família. A história se passava nos dias do Rei Bonhedig (que ninguém tem a menor idéia de quem seja) e... bem, a história acabava aí. Depos disso, Tom Bombadil virou o personagem de um poema ("As aventuras de Tom Bombadil") em 1932, anos antes de Tolkien pensar em escrever sobre hobbits ou anéis mágicos.



Entretanto, sem nenhum elemento da sua Terra-Média ou do seu "Silmarillion", Tolkien ofereceu os poemas e aventuras de Tom Bombadil (que iriam muito mais longe do que foi) como uma possível continuação para o "Hobbit", mas os editores não ficaram entusiasmados. Tolkien compreendia, assumindo que Tom Bombadil, na verdade, representava o espírito da região campestre de Oxford e Berkshire, que já haviam chego a sua ascensão e agora minguavam. De qualquer forma, aqui vemos, mais uma vez, como de fato Tom Bombadil era o senhor de um lugar e de um tempo, sendo o próprio lugar e o o próprio tempo, na verdade. Assim, Tom Bombadil é a Floresta Velha (enquanto Fruta D'Ouro é o rio Voltavime que cruza a floresta, da mesma forma que Caradhras, aquela montanha ranzinza que ataca a Sociedade do Anel).



Portanto, assim como Tolkien inseriu diversos elementos de sua mitologia particular nas suas obras paralelas (conforme apontei no tópico sobre o "Hobbit"), parece que ele também aproveitou e inseriu elementos d eoutras obras suas naquelas relativas a sua mitologia (conforme também se iniciou a discutir no post sobre o "Hobbit"). Então, entre brinquedos e histórias para família, entre folclore e poesias, a Terra-Média (e toda a obra de Tolkien) é constituída disto: de Tom Bombadil e de Homem-da-Lua.