08 dezembro 2008
"Unfinished", "unpublished" e "unedited"
02 dezembro 2008
Susana e representação da liberdade sexual
Inklings: da Terra-média para o espaço
Tolkien já tivera outros grupos de estudo e apreciação de produções literárias (como o ‘koalbitters’, ‘mordedores de carvão’ em islandês, numa referência aos mineiros que passam as noites de frio junto ao fogo, contando histórias; ou a T.C.B.S.), mas nenhum grupo foi tão ilustre quanto os Inklings. Além de Tolkien e Jack, também participava desse grupo o fiel amigo de longa data de Tolkien: W. H. Auden, famoso poeta, importante crítico, influente editor e excelente autor.
Jack costumava chamar Tolkien de ‘Tollers’ (apelido que o acompanhava desde criança) e a proximidade entre os dois foi tão grande, que Jack foi um dos primeiros a apreciar a “Lay of Beren and Lúthien” e tantos outros aspectos do mundo que rondava as lendas sobre os elfos, as silmarils e os próprios Beren e Lúthien. Assim, em 1930, com os humores elevados por conta de vinho, Tolkien (ou Tollers) e Jack combinaram que cada um escreveria uma história de ficção científica que remontasse à descoberta do Mito. Tolkien (ou Tollers) escreveria sobre uma viagem no tempo, e Jack escreveria sobre uma viagem pelo espaço.
A história de Tolkien chamava-se “The lost Road” e nunca passou do terceiro capítulo (conforme se vê no quinto volume das HoME, chamado precisamente de “Lost Road and others tales”). O livro mostraria como o professor de línguas Alboin e seu filho, desenvolveriam sua relação até então tão distante, enquanto voltavam no tempo através de sonhos para desvendar um mistério que encontrara em sua biblioteca: uma estrada perdida que segue reta para fora do mundo até encontrar Atlântida, prestes a cair. Atlântida, na verdade, se chamava Númenor (alguém reconhece esse nome de algum lugar?).
Mais uma vez Tolkien impunha sua própria mitologia em obras que não se tratava da Terra-Média. Claro que devemos levar em conta que “O hobbit” e consequentemente “O senhor dos anéis” ainda não tinham nem sinais de existência, mas, ainda assim, elementos como elfos, Morgoth, Sauron, Valinor se faziam presentes durante os tempos de guerra que culminariam na destruição de Númenor por ondas gigantes enviadas pelos valar.
Sim, era um romance dos tempos do “Akallabêth”, o conto publicado no “Silmarillion” e citado no “Senhor dos anéis” a respeito da queda de Númenor ao final da segunda era. E este mesmo tema recorreu numa outra história inacabada (e publicada na nona HoME, “Sauron defetead”) chamada de “Notion club papers”, iniciada em 1945 sobre um grupo semelhante aos Inklings, próximo do final do século XX, que de alguma forma conseguem pistas sobre a corrupção dos homens e a queda Númenor durante tempos de guerra. Parte dessa segunda narrativa foi publicada em forma de versos sob o título de “Imram”, na “Time & Tide” em 1955, baseado nas lendas irlandesas de São Brandão, que chegou até um paraíso nos distantes mares do ocidente.
Jack, por sua vez, escreveu, terminou e publicou um livro sobre Elwin Ransom, que é levado até Marte no livro “Out of the silent planet”. Mais ainda, Jack escreveu uma continuação chamada “Perelandra” (sobre uma viagem do mesmo herói até Júpiter) cuja qual Tolkien (ou Tollers) gostou ainda mais do que da primeira. Entretanto, Tolkien abominou a terceira e última parte do que ficou conhecida como “trilogia espacial” (há anos no prelo de uma editora evangélica), chamada de “That hideous strength”, que culmina em uma viagem até Vênus.
O que é mais interessante nessa série de livros de ficção científica (os primeiros livros de Jack) foi que Tolkien (ou Tollers) encontrou alguns ecos de sua obra na obra do amigo (isso muito antes da amizade dos dois se romper devido a, possivelmente, inveja por parte de Tolkien para com o sucesso do amigo). O mito descoberto nas histórias de Jack era o mito de Adão, Eva e a ascenção e pecado da humanidade. Para tanto, referia-se a um paraíso nomeado como Numinor, onde um casal chamado Tor e Tinidril (Tuor e Idril, humano e elfa na “Queda de Gondlin”?) recebiam a visita de Elwin (variação lingüística e snonora de Aelfwine, “amigo dos elfos” e personagem central do então “Book of lost tales” a primeira versão escrita do “Silmarillion”).
Antes de concluir, é importante frisar que “Jack” era o apelido dado a Clive Staples Lewis, mais conhecido como C. S. Lewis, que quando escreveu o sexto volume das “Crônicas de Nárnia” em 1955, conhecido como “O sobrinho do mago” referiu-se a anéis vindo de Atlântida. Mais uma mera coincidência ecoando em sua obra ou mais mito revelado na história dos Inklings?
Tom Bombadil e o Homem-da-Lua
Muitas são as lendas, mitos e contos folclóricos a respeito da Lua. Só na Inlaterra, encontramos um fazendeiro que vive por lá, um cavaleiro matando um dragão e muitas outras. Tolkien, que tanto queria recriar a mitologia britânica, não deixou escapar a oportunidade e, por essa mesma razão, trouxe o homem da lua para seus contos. Não exatamente um homem... Tilion era um maia, um servo angelical dos valar. Era Tilion quem ocupava a vaga de timoneiro da embarcação ou da carruagem da Lua, sempre seguindo Árien, a navegadora do Sol. Tilion, apaixonado por Arien, seguia um curso instável quando renascia no leste depois de passar por baixo da terra, mas isso não vem ao caso.
Arien não só ocupava o brilho das antigas lâmpadas ou das árvores que foram destruídas por Melkor, no início dos tempos, antes dos homens nascere. Arien também foi a motivação para que um personagem folclórico surgisse na obra de Tolkein. Em toda a obra, literalmente. O Homem-da-Lua é um personagem recorrente que pertence a universo algum. Tanto habita a Terra-média como outras histórias sobre o nosso mundo, conforme veremos.
A primeira referência pode ser encontrada no "Senhor dos anéis", quando os hobbits cantam sobre ele no Pônei Saltitante, aquela estalagem em Bri. Aquelas mesmas canções, podems er encontradas no livro "As aventuras de Tom Bombadil". Lá, em dois poemas ambos atribuídos a Bilbo, ficamos sabendo como o Homem-da-Lua veste prata e de prata é sua barba e seu cabelo. De prata é a chava que abre as portas de marfim que leva até a escada que desce ora sobre um monte, ora sobre o mar. E o Homem-da-Lua, adornado com pedras preciosas sente falta de cores e de comida, mas costuma mesmo é descer cedo para beber da melhor cerveja, mas nunca no Yule (o natal, para quem ainda não sabe), pois ninguém lhe abre protas no frio. Sabe-se, também, que às vezes bebe demais e tem acordar muito cedo, de ressaca, apra voltar para Lua antes do dia nascer (o que uma vez acabou por deixar que uma vaca chegasse até a Lua).
Uma história tão hilária assim, não poderia ficar restrita a um livro adulto, como "O senhor dos anéis", portanto, não é de se espantar que o encontremos em "Roverandom", aquele livro que Tolkien escreveu apra seu filho Michael, quando este perdeu seu cachorro de brinquedo. O livro conta como um cachorro é transformado em brinquedo e acaba por viver grandes aventuras no fundo do amr e até na Lua, onde mora um dragão e um feiticeiro (que tem algo de Gandalf, assim como os outros feiticeiros da história). Mas, o mais curioso é que entre espinheiros e aranhas (em citações a Shakespeare e alguns contos de fadas), o cão Rover encontra um outro Rover (um cão-da-Lua) e o próprio Homem-da-Lua, que o ajuda a descer para o mar (uma vez que há um caminho que liga o mar até a Lua). E, se não bastasse isso, entre outras coisas, sabe-se como foguetes de festa escureceram a Lua e permitiram um eclipse (fato que, de fato, ocorreu enquanto Tolkien escrevia a história).
Qual a importância dese eclipse? Bem, nas "Letters from Father Christmas", o Homem-da-Lua desce para Terra por conta de uns foguetes que escureceram a Lua e permitiram o eclipse. Esse livro, na verdade, se trata de uma compilação de cartas que Tolkien escreveu para seus filhos por mais de vinte anos, como se fossem de autoria do Papai Noel. Um livro sensível e divertido, com várias histórias e ilustrações, que tem como personagens principais o Papai Noel, Polka um urso polar, orcs malignos e um elfo ajudante do Papai Noel chamado Ilbereth. Um nome muito semelhante a Elberteh, não é mesmo? Elbereth foi um dos nomes dado a Varda, uma vala cujo título significa "Rainha das estrelas".
E entre tantas referências que Tolkien fazia a Terra-Média em suas obras infantis, somos levados a esbarrar em poemas e brinquedos. Dessa forma, fica claro que o final dessa jornada seria Tom Bombadil, talvez o personagem mais enigmático do "Senhor dos anéis". Durante três apítulos do livro (que o próprio autor descreveu como fora do clima e da própria história), travamos contato com esse personagem brincalhão e alienado, que parece só querer cantar e conlher nenúfares para sua esposa (a também enigmáica Fruta D'ouro). Tranjando botas amrelas, jaqueta azul e um chapéu de abas largas com uma pena de ganso (vestimenta quase idêntica ao mago da areia Psmathos Psmathides, do "Rovernadom"), tudo o que ficamos sabendo sobre Tom Bombadil é que ele não é nem humano e tão pouco um hobbit. Pertence a raça alguma é o senhor da Floresta Velha. Por alguma razão, a guerra do Anel não o interessa e sequer Sauron ou o Anel surtem algum efeito mínimo sobre ele. Tom Bombadil está na Terra-Média desde o início e provavelmente será o último morrer, sendo, portanto, o mais velho (como o chamam os elfos).
Curioso por mais informações no intuito de descobrir quem, afinal, é Tom Bombadil, qualquer leitor pode procurar "As aventuras de Tom Bombadil". Entretanto, as divertidas poesias que se encontram lá, nada ou quase nada acrescentam para resolver o mistério. Na verdade, só ficamos mais curioso a respeito desse personagem que desafia os (possíveis) huorns que vivem em suas terras, bem como as aparições de príncipes Cardolans mortos e traidores, enterrados na COlina dos Túmulos, tão perto da Floresta Velha. Sabemos também como ele se encantou imediatamente pela Fruta D'Ouro e fez de tudo para consquistá-la e lhe dar um linda cerimonial e vida de casamento. E os dois parecem ser felizes juntos, principalmente quando sozinhos. Muito embora, Tom Bombadil, que canta sobre si mesmo, faça visitas a alguns amigos animais e ao fazendeiro Maggot (aquele mesmo que cria cogumelos e que perseguia Frodo quando criança). A dúvida a mais que surge é: o Rio é um homem ou uma mulher? Não fica claro em nenhum momento, mas muita coisa aponta as duas possibilidades. Sobre annimais falantes, isso pode ser visto no "Hobbit" e no próprio "Senhor dos anéis".
Então, como resolver Tom Bombadil? Tolkien já disse que ele não é um valar ou o próprio criador Eru Iluvatar. Ninguém mais ousa considerar a hipóteses metafísica de Tom Bombadil fosse o próprio Tolkien. Então, só nos resta fazer um resgat de como o personagem foi criado. E, mais uma vez, um brinquedo do filho Michael entra na história. Era um boneco holandês com uma pena no chapéu. Certa vez, o filho mais velho de Tolkien, John, por não gostar desse boneco, jogou-a na privada. mas, Tom Bombadil conseguiu ser salvo e se tornou o herói de uma história que iria encantar toda a família. A história se passava nos dias do Rei Bonhedig (que ninguém tem a menor idéia de quem seja) e... bem, a história acabava aí. Depos disso, Tom Bombadil virou o personagem de um poema ("As aventuras de Tom Bombadil") em 1932, anos antes de Tolkien pensar em escrever sobre hobbits ou anéis mágicos.
Entretanto, sem nenhum elemento da sua Terra-Média ou do seu "Silmarillion", Tolkien ofereceu os poemas e aventuras de Tom Bombadil (que iriam muito mais longe do que foi) como uma possível continuação para o "Hobbit", mas os editores não ficaram entusiasmados. Tolkien compreendia, assumindo que Tom Bombadil, na verdade, representava o espírito da região campestre de Oxford e Berkshire, que já haviam chego a sua ascensão e agora minguavam. De qualquer forma, aqui vemos, mais uma vez, como de fato Tom Bombadil era o senhor de um lugar e de um tempo, sendo o próprio lugar e o o próprio tempo, na verdade. Assim, Tom Bombadil é a Floresta Velha (enquanto Fruta D'Ouro é o rio Voltavime que cruza a floresta, da mesma forma que Caradhras, aquela montanha ranzinza que ataca a Sociedade do Anel).
Portanto, assim como Tolkien inseriu diversos elementos de sua mitologia particular nas suas obras paralelas (conforme apontei no tópico sobre o "Hobbit"), parece que ele também aproveitou e inseriu elementos d eoutras obras suas naquelas relativas a sua mitologia (conforme também se iniciou a discutir no post sobre o "Hobbit"). Então, entre brinquedos e histórias para família, entre folclore e poesias, a Terra-Média (e toda a obra de Tolkien) é constituída disto: de Tom Bombadil e de Homem-da-Lua.