10 abril 2009

Foi_soh_uma_festa/?

São Paulo, uma noite de domingo. Eu deveria trabalhar no dia seguinte, mas não iria. Depois de 11 anos apaixonado, depois de 9 anos torcendo, depois de 8 anos ouvindo os boatos, a espera acabou... 35 mil pessoas, o trânsito tumultuado, pessoas com camisetas listradas e óculos, garotos barbudos e garotas descoladas. O ingresso na mão há 4 meses. Gato doente em casa e ainda assim me aventurei por aqueles asfaltos até chegar (e ainda parei em um posto de beira de estrada para dormir da perigosa exaustão).

Primeiro, os Los Hermanos voltaram. Tocaram bem e bastante. Nada demais, mas muita gente gostou. Depois, ao invés do Sigur Rós, do Mars Volta ou do Portishead, os clássicos alemães do Kraftwerk subiram aos palcos (e desceram, chamaram seus sósias robôs e depois voltaram luminosos e fluorescentes como no filme "Tron"). Uma honra vê-los, já valeria o ingresso. Mesmo que muita gente não tenha gostado, foi bem animado e muito bem produzido, especialmente o karaokê no telão.

Mas, não era para isso que estávamos lá. Embora saber da presença do Kraftwerk tenha animado muito. Eu e outros 34.999 (incluindo famosos) estávamos lá pelo mesmo motivo que 30 mil pessoas se reuniram dois dias antes no Rio de Janeiro: presenciar a guitarra e os ruídos do tímido Johnny Green Wood, sempre acompanhado do omisso irmão Colin Greenwood, e o simpático e empolgado Ed O'brian seguindo a bateria precisa e ritmada do Phill Sellway, e o esuisito Thom Yorke que só sabe. dizer "Obrigado" e "Boa noite", pela primeira vez no Brasil.

E era para ser só mais um festival, apenas uma festa, mas foi o melhor show dos últimos tempos de um das melhores bandas dos últimos tempos. Começou com "15 step" e seguiu por tantas outras de todos os diversos momentos da carreira, embora o último e novo "In rainbows" foi executado inteiramente.

Embora o Rio tenha tido "The gloaming", "Airbag", "No surprises", "I might be wrong", a fabulosa "Street spirit" (pelo menos eu também tive "There there"), "How to disappear completely" e "Just", São Paulo pôde presenciar outras raridades em setlists, como "You and whose army?", "Pyramid song", o lado b "Talk show host", a também fabulosa "Climbing up the walls", "Exit music", a popular "Fake plastic tree", "Lucky" e "Optmistic", além do fato de ter tido minutos a mais de show (ao longo das quase duas horas e meia), um gostinho de "True love waits" no início de "Evereything in tis right place" e uma música a mais no set list, a primeira e mais famigerada: "Creep", também tocada no Rio.

Ao todo foram 26 músicas muito bem tocadas e muitas vezes melhor do que na versão original de estúdio, como foi o caso de "Idioteque". As luzes epiléticas acompanhavam a dança em flashes do vocalista e suas caretas, embora haja quem tenha dito que o telão falhou (só eu não percebi, acho). Na verdade, eu estava mais é dançando, chorando, cantando junto, prestando a atenção, fumando, beijando minha mulher e pensando em como era legal ver aqueles caras dando tudo de si para mim e todas as outras pessoas que pagaram o preço do ingresso. E quando digo dar tudo de si, digo que eles tocaram de tudo, como a incomparável "Paranoid android" para exemplo.

Depois teve o tumulto para sair, o perigo de cair em um burcao, o trânsito engarrafado e sensação de voltar para casa bem e mal. Bem por ter visto um show inesquecível. Mal por ter visto visto um show inesquecível. Antes palavras pudessem descrever tais sensações, daí, eu conseguiria escrevê-las e bastaria isso para tornar reviver a boa sensação e o show insquecível.

03 abril 2009

Dia Internacional do Livro Infantil






Ontem foi dia 2 de abril: dia do meu a niversário. Certo, parabéns, obrigado, feliz aniversário, está bem. Dia 2 de abril, também, é o dia em que se lembra a morte do Papa João Paulo II. Ele morreu em 2 de abril de2005, mesmo ano em que se comemorava o bicentenário de Hans Christian Andersen, em Copenhagem na Dinamarca. Nessa tal celebração dos duzentos anos do nascimento do maior escritor de histórias infantis de todos os tempos, foi realizada uma apresentação do ballet dinamarquês com a música "The little match girl", composta pelo Sigur Rós especialmente para a ocasião e nunca lançada em CD, EP, single ou vinil.



A tal "Little match girl" ("pequena vendedora de fósforos") a que se refere o título é um conto de Andersen no qual uma menina sai de casa na noite da véspera de Natal para vender fósforos. Ela precisava vendê-los por que sua família é pobre e seu pai (possivelmente alcoolatra) iria bater nela se ela voltasse para casa sem dinheiro. Enquanto perambula pelas ruas, sozinha, ela imagina que crianças estejam desembrulhando presentes e comendo perus assados por trás das paredes das casas. Mas o frio vai ficando mais forte e ela decide acender os palitos de fósforos e pensar na sua avó (a única pessoa que a tratava bem) para poder se aquecer na neve. O conto acaba com a menina morta e congelada.



Triste, não é? Nem parece história para criança, mas é. Na verdade, todos os contos de fadas originais continham violência, horror, sexo e tristeza. Mesmo os contos coletados por Ésopo, Perrault, Jacob e Wihelm Grimm e tantos outros. Tais contos, os contos de fadas, descendem do folclore, das histórias populares contadas oralmente de geração a geração, sempre com o intuito de passar alguma moral para as crianças e entreter os adultos. Sim, você leu direito: adultos. Os adultos também fazem parte do público alvo dos contos de fadas. Tanto que a primeira publicação dos contos de fadas dos irmãos Grimm na Inglaterra foid estinada aos adultos, mas fez tanto sucesso entre as crianças que os autores resolveram por bem amenizar um pouco os conteúdos dos contos.



E foi aí que a coisa degringolou. Os adultos, crentes de as crianças são inocentes e burras, passaram a duvidar da capacidade delas em elaborar idéias a respeito de medo, desejo e morte. As histórias passaram a ficar mais bobas e pobres até que toda a sanguinolência e cobiça da "Cinderella" se tornasse um elegante e engraçado desenho animado da Disney. Com isso, a alma do conto era perdida, bem como muito de seu conteúdo mitológico e social. Sim, pois contos de fadas descendem de mitos, também. E todo mito revela uma história verdadeira, uma reflexão simbólica da psiquê humana e um contexto cultural.



Por sorte ainda temos autores que resgataram esse teor sombrio de volta para as crianças. É só as produções infantis de Tim Burton, ou os livros de Neil Gaiman e J. K. Rowling. Não por acaso, os maiores sucessos de crítica entre os consumidores: as crianças. Também, não é por acaso que o aniversário de Andersen se tornou o dia internacional do livro infantil. Esse escritor e pesquisador, coletou contos populares de diversos povos, recontou histórias antigas e ainda inventou uma nova gama de personagens, sempre trazendo histórias tristes, violentas, sombrias e luxuriantes, com grandes toques de magia. Ele ousou e acreditou no poder das crianças de crescerem enquanto pessoas. Acreditou que as crianças fossem tanto boas quanto más, identicas aos adultos.



Mesmo que se conte que os irmãos Grimm, ao receberem a visita de Andersen se anunciando como um colega de profissão, declararam nunca terem ouvido falar dele e o levá-lo a vergonhosas lágrimas com isso, muitas dos contos de fadas mais conhecidos no mundo são de Andersen: "A sereiazinha", "O patinho feio", "O valente soldadinho de chumbo", "As roupas novas do imperador", "O rouxinol" e "A rainha do gelo", para citar alguns exemplos. Personagens como Branca-de-neve e Rosa-vermelha até circulam em algum ou outra história sua, mas o mesmo acontece no folclore ingl6es, italiano, russo, norueguês e (pasmem!) chileno.



Então, termino deixando a dica para que mais adultos leiam mais contos de fadas e permitam que as crianças leiam os verdadeiros contos de fadas. Essa é a literatura suprema, não por acaso o próprio Tolkien assumia a dificuldade e a ambição em escrever contos de fadas. Ele até chega a assumir que "O senhor dos anéis" e os capítluos "Beren e Lúthien", "Túrin Turambar" e "Chegada em Gondolin" seguiriam as premissas de pessoas comuns se envolvendo em eventos mágicos e grandiosos, que seria a premissa básica de todo conto de fada. Agora, só falta chegar ao Brasil o marivilhoso conto de fada de Tolkien chamado "Smith of Wotton Major". Até lá, leiam Andersen e tenham a mente aberta, pois a Chapeuzinho Vermelho não foi salva pelo caçador, houve quem disse que o Lobo a despiu, alevou para a cama e a comeu (literalmente) e houve quem disse que ela rasgou a barriga do Lobo, pegou o cadáver de sua avó, fez uma sopa, tomou a sopa e ficou forte o suficiente para matar o Lobo com usas próprias mãos...