05 dezembro 2009

"O hobbit 2": mais do mesmo (?)






Comemorando, atraso, o primeiro aniversário desse novo formato do blog, resolvi retomar um dos meus primeiros posts aqui. Agora, ao invés de apontar os problemas que "O hobbit" causou na obra e na Terra-média de Tolkien, quero mostrar que as ligações entre esse livro e o "Senhor dos anéis" são maiores do que julga sua vã filosofia. E não estou me referindo as ligações encontradas nos apêndices ou nos "Contos inacabados". Me refiro a como Tolkien levou ao pé da letra o pedido de seu editor para que, em 1937, escrevesse um 'novo "Hobbit"'.



Se quando Tolkein releu e revisou o "Hobbit" para a publicação da "Sociedade do anel" ele sentiu vontade de reescrever todo o seu primeiro livro novamente, penso que um dos motivos que o levou a desistir pode ser o fato de que ela já havia feito isso. Sim, minha idéia é justamente essa: mostrar como os dois livros se parecem, muito mais do que a presença de hobbits como protagonistas lidando com anéis mágicos e orcs a serviço da força das trevas. E digo isso embasado na minha recente (e sétima) leitura do "Hobbit" (já "O senhor dos anéis" só li seis vezes, sendo a última no ano passado, mas muita coisa ainda está fresca na mente, graças a ajuda dos filmes).



Tomemos como ponto de partida e, consequentemente, ponto principal, a estrutura da história dos livros. "O hobbit" começa no Condado, quando um pacato hobbit se vê envolvido em uma missão que não é sua graças ao mago Gandalf. Ele parte em um grupo com anões e, logo de cara, enfrenta um grupo de monstros (no caso, trolls). Logo depois, acaba na casa de Elrond, em Valfenda, e de lá parte para as Montanhas Sombrias, onde enfrenta orcs a mando do Necromante (que depois descubriríamos ser Sauron).



Ainda está me acompanhando? Pois bem, de posse do Anel, o grupo sai da morada dos monstros e encontra um lugar amigo que os recebe (a casa de Beorn), que fica a beira de uma floresta. E depois de atravessarem a floresta chegam a um reino de humanos. De lá, parte para o fim da jornada (a perdida Montanha Solitária, onde vive o vilão da história, o dragão Smaug, que é morto por um personagem secundário em uma passagem que mal é mostrada). Então, o livro e a história poderiam acabar aí, mas uma surpresa aguarda os leitores nos capítulos finais do livro: o hobbit se vê envolvido em uma guerra por tesouros e territórios, onde as mais diferentes raças se reúnem.



"O hobbit" acaba com Bilbo (o protagonista, diga-se de passagem) confortavelmente em casa. Mas ficamos sabendo que 60 anos se passaram e o Anel encontrado trouxe problemas ao mundo, graças ao retorno de Sauron (aquele Necromante citado acima), seu legítimo dono que se sentiu roubado (igual ao Gollum, antigo portador do Anel antes de Bilbo). E é aí que começa "O senhor dos anéis", cuja história pode ser contada seguinte forma:



Um pacato hobbit do Condado se vê em uma missão que não é sua graças ao mago Gandalf. Ele parte em grupo, que mais tarde teria um anão, e logo de cara, enfrenta um grupo de monstros (no caso, Nâzgul, mas ele passa bem perto de onde estavam os trolls). Logo depois, ele acaba na casa de Elrond, em Valfenda, e de lá parte para Moria (nas Montanhas Sombrias), onde enfrenta orcs a mando de Sauron, e um dos personagens (Gandalf) enfrenta sozinho uma criatura das profundezas (dessa vez, um Balrog, e não o Gollum).



Por fim, o grupo sai da morada dos monstros e encontra um lugar amigo que os recebe na floresta de Lothlórien (bem perto da Floresta das Trevas, onde acontece o "Hobbit"). E depois de atravessarem a floresta (e se separarem) uma parte do grupo chega a um reino de humanos (Rohan) enquanto outra parte para o final da jornada, até a solitária Montanha da Perdição, em Mordor, onde vive o vilão da história, Sauron, que é morto em uma passagem sequer mostrada). Então, o livro e a história poderiam acabar por aí, mas uma surpresa aguarda os leitores nos capítulos finais do livro: o hobbit se vê envolvido em uma guerra por tesouros e territórios, onde raças diferentes se unem (uma passagem, aliás, que se eu ainda não escrevi nada sobre ela no blog, em breve escreverei, e que inclui um vilão sendo morto por um personagem secundário).



"O senhor dos anéis" acaba com Sam, um dos hobbits protagonistas, confortavelmente em casa. E depois ficamos sabendo que muita coisa aconteceu em seu futuro, mas isso não vem ao caso, o que vem ao acaso é que o jogo de luz e sombra, como aponta o ilustrador Alan Lee, é praticamente o mesmo, e da mesma forma, na duas obras. Agora, se isso não basta para convencê-los, meus caros, que tal analisar o fato de Gandalf ficar aparecendo e sumindo ao longo do dois livros? Sim, tanto no "Hobbit" como no "Senhor dos anéis", Gandalf some no início da aventura para procurar informações e enfrentar o vilão(o necromante no "Hobbit" e Saruman no "Senhor dos anéis")) e depois re-aparece em Valfenda, para sumir novamente na saída das Montanhas Solitárias ao enfrentar um vilão (o Necromante no "Hobbit" e o balrog no "Senhor dos anéis"), para, finalmente, ressurgir com força total e com importância decisiva nas batalhas junto ao reino dos homens.



E isso, de alguma forma, tira a magia do "Senhor dos anéis" ou de Tolkien? Não, de forma alguma. Isso é apenas uma porta de interpretação aberta, como a porta de Moria (no "Senhor dos anéis") ou a porta da Montanha Solitária (no "Hobbit"), que ambas estão fechadas, cabe ao intruso sentar na frente e aguardar a resposta ocasional de como abri-la.

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