06 janeiro 2009

Expectativa



O ano acabou e começou. Fiquei quase um mês sem nada publicar, pelas mais diversas razões, mas agora estou de volta e com muito material. Então, dentre o que andei planejando (mais expectativas e visões de futuros), decidi começar pelas expectativas a respeito do Sigur Rós para 2009. Por enquanto, a única coisa que se tem de concreto sobre a banda é que os integrantes estão na Islândia, de férias, desde 25 de novembro do ano que acabou. Eles deram dois shows em Londres (no dia 21 e 22 do mesmo mês) e depois deram um show gratuito na capital islandesa no dia 24. Desde então, descansam com suas famílias e em suas propriedades. Devem estar curtindo o natal islandês (que dura treze dias!) e os ritos invernais.


Então, quais são as expectativas? A primeira delas é que, depois de usar imagens de seus shows nos clipes de "Inní mér syngur vitleysingur" e "Við spilum endalaust", eles retomem os clipes em câmera lenta com historinhas. Para isso, os boatos afirmam que além de capturar imagens, desenhar storyboards e escrever roteiros junto com algum diretor, os caras estão em estúdio compondo e recuperando material de sobre de estúdio para usar em algum novo single para o álbum "Með suð í eyrum við spilum endalaust". E as possíveis faixas candidatas para um single circulam entre calma acústica de "Góðan daginn", a famosa "Festival", a pouco épica pouco provável de aparecer em shows "Ára bátur" e triste "Illgresi". Vamos aguardar. Sobre quais músicas estariam no lado b do single, ninguém tem conhecimento. Talvez sejam algumas músicas que surgiram na época do "Takk..." ou "Hvarf-heim".


Claro, nada disso é confirmado, ainda. Talvez, ainda coisa que está próxima de sair é um DVD contendo imagens dos dois shows em Londres realizados ao final de novembro e devidamente citados no início desse tópico. O diretor desse DVD será Vicent Morisset, que já trabalho com vídeos interativos para o Arcade Fire (outra banda que se você não conhece, deveria). E ele prometeu um trabalho bem diferente daquele visto no documentário "Heima", que acompanhava uma turnê do Sigur Rós pela Islândia, dirigido pelo veterano Dean Deblois, e premiado e cultuado em todos os países que puderam assistir alguma exibição. Por aqui, só em cópias importadas (isso é, se o seu aparelho de DVD rodar discos importados).


Sobre o "Hvarf-Heim" e o "Heima", acima citados, volto em um instante, enquanto falo sobre expectativas... O Sigur Rós parece ter uma habilidade fora do comum em criar expectativas e cumprí-las de de uma forma não correspondente às expectativas. Tudo começou com os atrasos na produção "Ágætis byrjun" ou com os anunciados atrasos para a data de lançamento de seu posterior "( )". Pelo menos, eram atrasos avisados com um bom tempo de antecedência e em tempos onde a expectativa sobre a banda era um pouco menor (está certo, "( )" foi muito aguardo na época, a ansiedade pelo novo trabalho da banda só crescia). Mas, depois de ver "Takk..." ter seu lançamente misteriosamente adiado por meses, percebi que havia ali um padrão na banda. Talvez pelo perfeccionismo do pianista Kjarri, talvez pelo perfeccionismo do produtor Ken Thomas, talvez pelo perfeccionista do vocalista Jónsi, talvez pela complexidade dos arranjos do quarteto Amiina, talvez por preguiça, talvez por descaso, talvez por costume islandês, talvez por insatisfação com a qualidade de alguns materiais de trabalho, o fato é que o Sigur Rós sempre atrasa o lançamento de seus trabalhos!


Quando eles anunciam uma data, essa data dificilmente será cumprida. Sequer o atraso será para uma data próxima. Lembram-se do lançamento do single de "Hoppíppolla"? Atrasou. E o single de "Sæglópur", então? Quase um ano, talvez, de atraso. Mas, as coisas começaram a ficar curiosas na primeira metade do ano de 2007, quando um anúncio no site oficial da banda dizia que a banda iria relançar a trilha sonora de "Hlemmur" junto com o DVD do filme e um livro de imagens e informações, iria lançar um single para a novíssima versão para ancestral música "Von" (de seu primeiro álbum, também chamao de "Von"), iria lançar um ep com versões ao vivo e acústicas de alguns sucessos seus acompanhada de um DVD e ainda iria lançar, finalmente, um CD e um DVD com o aguardadíssimo "Odin's raven magic". E como foi que tudo ocorreu?


"Hlemmur" saiu do jeito que eles falaram, só com algumas semanas de atrasos. O single de "Von" virou um EP chamado "Hvarf" que saiu junto com o EP "Heim" com músicas acústicas e ao vivo, com meses de atraso, seguido pelo fantástico filme "Heima", que teve alguns dias de atraso. Além disso, a metade "Hvarf" continha a inesperada nova versão de "Hafsól" (que aparecia no primeiro álbum como "Hafssól"). Ótimo. Depois disso, cumpriram com os prasos e lançaram um novo e impronunciável álbum em meados de 2008 (muito embora a edição de luxo tenha sofrido um atraso de quase dois meses, e as músicas não soaram exatamente como eles anunciavam: um retorno aos primórdios da banda, mais sombrio, com ênfase na bateria e nas orquestrações, entretanto, de fato, mais acústico). E, do que estou reclamando? O que está faltando? "Odin's raven magic", provavelmente a melhor coisa que já ouvi na vida!


Essa obra foi composta em 2001 e foi apresentada em 2002 em Londres, Paris, Copenhagem e Reykjavík. A versão de Paris foi filmada e seu áudio pode ser encontrado na rede para download gratuito e ilegal (mas, por enquanto, é única forma de ouvir essa obra). Entre 2006 e 2007, a banda se reuniu com os outros integrantes do projeto (o quarteto Amiina, uma pequena orquestra, um coral, o autor da peça e o bardopescador Steindór Andersen, com quem haviam trabalhado em raro EP chamado "Rímur") em um estúdio para passar o som de novo e apresentar um álbum com qualidade perfeita, acompanhada de imagens de bastidores e apresentações. Até agora, depois de abandonar qualquer rumor, só se sabe que o álbum está em mixagem e pode ser lançado até dezembro de 2009, com a possibilidade de acompanhar algum DVD.


E do que se trata Ödin's raven magic"? Trata-se de uma opera clássica e erudita composta pelo alto sacerdote da antiga religião pagã dos povos nórdicos Hilmar Örn Hilmarsson, que também é poeta, historiador e tem experiência em bandas de heavy metal, punk, gótico, música eletrônica, techno, rock progressivo, pop e trilhas sonoras (para a "Lenda de Grendel", inclusive, onde foi consultor e atuou em umas cenas de funeral e batismo realizadas em seu país). Além da sonoridade rock do Sigur Rós e da presença de música acústica de câmara dos outros integrantes do projeto, "Odin's raven magic" conta com um xilofone gigante (tocado por três pessoas ao memso tempo) feito de pedras calcárias encontradas nas regiões vulcânicas. O fabricante e seu produto podem ser visto em uma curta cena do "heim", mostrando como aquele deve ser o instrumento de som mais bonito no planeta.


O texto que permeia os sete capítulos e 64 minutos da obra provém do poema "Hrafnagaldur Óðins", presente na coletânea de contos islandeses "Edda", de Snorri Sturlusson, escrita no século XIII depois da coleta da tradição oral junto aos camponeses. No século XIX a autenticidade desse poema em especial foi contestada com o argumento de que ele, na verdade, datava do século XV, um período fundamentalmente cristão e que abominava qualquer resquício de paganismo. Mas, na década de 60, um professor de literatura, historia e mitologia da Islândia (cujo nome eu não me recordo) conseguiu reinserir o poema nas novas edições do "Edda". E, afinal de contas, sobre o que se trata? Trata sobre um banquete organizado pelo deus asgardiano Odin para todos os outros deuses e guerreiros, mas o clima de festa acaba quando os dois corvos de Odin chegam: Hugim e Munim ("memória"e "pensamento", respectivamente). Eles chegam para anunciar que não motivo apra festejar, pois tudo o que se conhece está prestes a ser destruído. Agourentos, anunciam o famoso episódio do Ragnarök, o crepúsculo do deuses, quando Asgard, Odin e muitos outros cairão sob as mãos de gigantes de gelo e fogo, serpentes gigantes e traições do deus Loki.


Então, meus caros, finalizo anunciando que as expectativas são essas todas, por enquanto, e que pelo visto estamos perdendo muita coisa boa nos últimos tempos. E, se os corvos estiverem certos, não teremos muito tempo...

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