08 dezembro 2008

"Unfinished", "unpublished" e "unedited"






Quando "Os filhos de Húrin" saiu, em abril de 2007, houve muito furor por parte dos fãs de Tolkien. Enquanto alguns torciam o nariz alegando que aquele era mais um caça-níquel por parte de Christopher Tolkien, quase todos ficaram muito felizes por ter a oportunidade de ler um trabalho 'novo' de seu autor favorito. O argumento contra era que Christopher já havia sugado tudo o que podia do espólio do pai e não sabia mais o que inventar para arrecadar mais dinheiro dos fãss da Terra-Média e suas histórias. Ele já havia publicado os "Contos inacabados" (com trabalhos que Tolkien deixou por concluir, como o próprio nome indica) e as "History of Middle Earth" (ou "HoME"), uma série de 12 volumes com rascunhos e projetos abortados para os contos e livros da Terra-Média. Isso sem falar no próprio "Silmarillion", que foi concluído às pressas por Christopher e o amigo Guy Kay.



Enquanto no "Silmarillion", ficou claro que alguns materiais ficaram de fora por não estarem devidamente organizados e outros materiais foram rearranjados para ficarem coesos com o livro todo, os "Contos Inacabados de Númenor e da Terra-Média" mostraram a criação de Tolkien no estágio em que ficou parado, ou nas formas em que evoluiu. Isso foi fantástico pois, além de termos acesso a várias informações importantes a cerca da Terra-Média, também podíamos compreender como Tolkien trabalhava. E foi nesse livro que encontramos, logo no início, a "Narn i Hîn Húrin" (a "narrativa dos filhos de Húrin"). Vestígios de uma história que poderia ter sido muito mais longa e elaborada do que o capítulo "Túrin Turambar" que está na versão do "Silmarillion" publicado.



Ao longo de vários capítulos nos mais diferentes estágios de composição, conhecemos a história de como o humano Húrin é preso por Morgoth, inimigo dos elfos e do valar, e de como cresce e se aventura Túrin, seu filho, em uma vida cheia de desgraças que envolve furtos, assassinatos, maldições, incesto e uma violenta luta contra Glaurung, o primeiro dragão. Essa história estava quase pronta, Christopher mesmo afirma isso para justificar a ausência de alguns capítulos que, na verdaed, já estavam integrando o "Silmarillion". Dessa forma, quando "Os filhos de Húrin" foi anunciado e chegou as livrarias, o que encontramos não foi uma história inédita, mas toda a narrativa dos "Contos inacabados", mais alguns capítulos do "Silmarillion" e passagens das "HoME", organizada de forma coerente e contínua, como o livro que, de fato, poderia ter sido (e quase foi).



A emoção de ler a única história longa da Primeira Era se misturou com a emoção de ler um bom livro. O fascínio que esta mistura gerou, também gerou a pergunta: ainda veremos trabalhos 'inéditos' de Tolkien? A resposta seria, só Christopher sabe. Mas, podemos ter uma idéia do que não foi acabado, publicado ou editado... Por exemplo, desde quando Tolkien começou a criar sua mitologia para a Inglaterar (na época em que o "Silmarillion" se chamaria "Book of lost tales", na década de 1920), ele já afirmava que por toda a história da criação do mundo e da guerra das jóias entre elfos e orcs, haviam três importantes histórias a serem contadas. Três grandes contos daquele Primeira Era. Os contos eram: "Beren e Lúthien", "Filhos de Húrin" e "Queda de Gondolin".



Sobre "Os filhos de Húrin", sabemos que durante grande parte de sua vida ele desenvolveu a narrativa e que Christopher a compilou e organizou durante os últimos 30 anos. Isso tudo foi registrado emc artas, introduções de volumes publicados e entrevistas. Agora, e sobre os outros dois contos? "Beren e Lúthien" começou como um gigantesco poema que nunca foi terminado e que chegou a metade de seu tamanho, apenas. Porém, existem versões desse conto para o "Book of lost tales" (da década de 20), para o "Qenta Noldorinwa" (da década de 30), para o "Quenta Silmarillion" (da década de 60) e finalmente o "Silmarillion" (publicado em 1977), sem contar um outro poema publicado no "Senhor dos anéis". Portanto, considero que um estudo de todas essa versões, mais acréscimos de outros capítulos e passagens de Tolkien sobre aquele período histórico e geográfico, poderiam dar origem à um belo e longo conto a cerca do amor entre o humano Beren e a princesa elfa Lúthien, que juntos conseguem recuperar uma silmaril da coroa de Morgoth.



Claro que só esse conto não ocuparia tamanho suficiente para um livro, portanto, poderíamos acrescentar a "Queda de Gondolin" a esse projeto editorial. Talvez esse seja o conto que mais possua versões e que mais foi trabalhado por Tolkien. Além de ter sido escrito em diversos poemas (alguns ainda inéditos), ele também encontra versões em todas aquelas quatro tentativas de "Silmarillion" citadas acima, bem como versões contadas por diferentes pontos de vista e vários textos paralelos a esse evento, mas com profunda relação (tanto antes quanto depois da descoberta e destruição da cidade fortificada e escondida). Acrescenta-se a isso o conto inacabado "Da chegada de Tuor a Gondolin" (que entre os vários estágios de evolução, trata em detalhes sobre a queda da cidade) e pronto, teríamos um conto quase tão extenso quanto "Os filhos de Húrin". Claro, que Chritopher teria um grande trabalho para organizar e editar o texto de forma coerente e verossímil, mas não seria um trabalho impossível, com tantas referências e textos de apoio, já conhecidos pelos fãs.



Então, se temos dois grandes contos da Primeira Era juntos em um mesmo volume, por que não acrescentar o terceiro? Não, não estou me referindo a publicar "Os filhos de Húrin" mais uma vez, mas em acrescentar o conto "Wanderings of Húrin" (presente no volume XI das "HoME, "Morgoth's ring"), no qual Húrin é liberto doc aiveiro e vaga sem destino pelo mundo, até saber das tragédias de seu filho e sua filha, onde parte para se vingar o mal feito a eles. Embora esse seja o conto menos trabalhado e revisto por Tolkien, é um dos mais detalhados a cerca da Primeira Era. Se mais uma vez acrescentarmos passagens de outras fontes, teríamos aí mais um magnífico conto para integrar o volume.



Assim, já que não custa sonhar, meu livro dos sonhos receberia o pequeno título de "Livro dos três grandes contos perdidos da primeira era, ( ou: que não foram acabados, publicados e editados até os dias de hoje)" e poderia ser lençado a tempo de conseguir laçar o público que está se preparando para assistir o "Hobbit" no cinema. Ah, e como apêndice, poderíamos ter anexados os textos e frases de Tolkien que foram encontrados depois do término das "HoME" (como por exemplo o artigo sobre o poder subconsciente ou telepático dos elfos, ou a frase em que se afirma que elfos podem ter barba, o que justificaria a aparência de Círdan). Então, alguém se habilita a escrever essa idéia para a Tolkien enterprises ou para o próprio Christopher Tolkien? Contem com minha assinatura!

4 comentários:

Aurvandill disse...

É, algumas idéias seriam boas, outras não funcionariam tão bem... Por exemplo, as descrições das criaturas estavam muito mais detalhadas, em compensação, o livro teria hobbits demais e uma razão inexplicável para tantas traições a lianças políticas. Entende?

Anônimo disse...

Ainda acho que Tolkien abandonou suas melhores idéias no meio do caminho, pelo menos em relação ao SdA.

Anônimo disse...

Entendo mas ele tambem tinha por exemplo: um par romântico legal e um vilão predonificado para o clímax, e não apenas uma manada de orcs.

Aurvandill disse...

Vilão personificado? Você está se referindo ao Saruman? Ou ao Barbárvore? Por que, o Sauron não estava programado para aparecer, mesmo... Ele existia da mesma forma que nas obras publicadas: uma pessoa que ninguém tinha visto (com excessão do Beren, no "Silmarillion"). E o Saruman ficou bem personificado no livro (principalmente no final, a melhor parte de toda a obra).Sobre a relação amorosa. De fato, penso que a Éowyn é uma personagem melhor que a Arwen, mas Aragorn ter ficado com a elfa foi interessante no sentido de retomar uma lenda do passado, fechar o ciclo que começou com os avós da própria Arwen. Além disso, o triângulo amoroso deu um clima a mais e as relações políticas ficaram mais coerentes, na minha opnião.Sei lá...