28 novembro 2008

O chamado de Dagão



"Call of Cthulhu" não só é o nome de um popular e maravilhoso RPG, como também o do conto mais famoso de Lovecraft. Aqui, pela primeira vez conhecemos o famoso grande deus antigo Cthulhu (tão importante em sua obra), como começamos a ver uma sistematização dos mitos que o envolvem. E Cthulhu não poderia ser descrito de outra forma além de uma gelatina de limão na forma de um gigante barrigudo, com cabeça de polvo, pata de vaca, asas de morcego e alguma coisa de elefante. Parece absurdo? Então, olhe a figura ao lado e leia o resto deste post. Tem muitos mais absurdos.




O primeiro deles, para os incautos, é que Cthulhu não é exatamente uma criação de Lovecraft (assim como alguns outros elementos de suas obras). Cthulhu, algumas vezes, pode ser identificado como Oannes ou Uan ou Adapa ou Abgallu, um deus fenício-babilônico metade homem e metade peixe enviado pelo Criador com o propósito de civilizar a humanidade. Mas, além dessa espécie de tritão, Cthulhu costuma (e deve) ser identificado com Dagon (ou Dagão, no nosso idioma). Dagão é um divindade semítica da agricultura e da pesca, adorado principalmente pelos filisteus em um templo na cidade de Ashdod. Como punição por idolatrar a imagem de dito demônio, Deus (aquele dos cristãos, sabe?) destruiu as pedras do lugar e mandou uma ifnestação de ratos e hemorróidas assolar a população.



Esta história sobre Dagão pode ser encontrada na "Bíblia Sagrada", nas passagens: Juízes 16:23, Samuel I 5: 2-7 e Crônicas I 10:10. Lá sabemos como Dagão enfrentou Sansão. Mas, essa não é a única passagem literária na vida desse deus que é ao mesmo tempo cria, servo e o próprio Cthulhu. Ele aparece brevemente como uma versão dos mitos medievais sobre o kraken em obras de lord Dunansy e do galês (adorado por Lovecraft) Arthur Machen, como uma espécie de Asmodai (deus da magia cerimonial) conhecido na obra como acqua hominis. Porém, as melhores referências sobre Dagão estão em Lovecraft mesmo. Nas contos "Dagon" e "Sombra sobre Innsmouth".



No primeiro deles, que leva o nome da divindade, somos confrontados com um sobrevivente de guerra que chega a uma ilha espanhola e literalmente dá de cara como um deus monstro saído do mar. Na outra (em formato de noveleta foi o primeiro e único livro de Lovecraft publicado em vida, sem contar os contos em revistas de ficção científica e horror, apesar do desagrado do autor com o ritmo dessa história) conhecemos um personagem que visita a estranha e assombrosa cidade de Innsmouth, que parece guardar um segredo sombrio em seu passado e em seus habitantes metal e fisicamente deformados. A história de suspense segue para um ritmo de pânico e medo quando é descoberta uma igreja chamada 'Ordem Esotérica de Dagon' (esse religião de fato passou a existir no final dos anos 60 e hoje possui templos e sacerdotes na América do Norte e em alguns outros pontos pelo globo). O clímax revelador e supreendente torna esse conto uma obra prima, que mais tarde foi transformado em filme pelo especialista em Lovecraft, Stuart Gordon ("Dagon, 2004").


Para quem quiser trocar sua pele por escamas, suas traquéias por guelras, seus membros por nadadeiras ou suas pálpebras e espaço entre os dedos por membranas, rezem para o pai Dagon e a mãe Hydra (aquela serpente grega, que dispensa mais apresentações, certo?). E torçam para que o todo poderoso Cthulhu atenda suas preces, tornando-o em um de seus Deep Ones (como são chamados os "seres das profundezas" que rezam na Esoteric Order of Dagon, E.O.D.). Dúvida que dê certo? Aguardem meu post sobre o "Necronomicon" ou tentem vocês mesmos em casa.

Um comentário:

fagner disse...

o fã de lovecraft devo descordar (na minha opinião) que cthulhu e dagon sejam a mesma entidade!

suas caracteristica, apesar de marinhas, são muito diferentes e destintas!